terça-feira, 13 de março de 2012

Livro 59 - Correndo com Tesouras - Augusten Burroughs




Livro 58 - Correndo com Tesouras - Augusten Burroughs

A capa do livro traz a seguinte frase: "memórias de um adolescente e sua família muito louca".

Augusten Xon Burroughs é o nome adotado por Christopher Robison. Ele é filho de John Robinson, diretor da faculdade de Filosofia da Universidade de Massachusets e alcóolatra, e de Margaret Robinson, escritora e poeta, e também maníaca-depressiva.

Com essa "base", Augusten escreve Correndo com Tesouras. Conta como era viver com a embriaguez do pai, com os surtos da mãe, com a ausência do irmão, e, pós divórcio, como foi conviver somente com a mãe e o seu psiquiatra, no livro chamado de Dr. Finch. Após um período, sua mãe o manda viver com a família pouco ortodoxa do médico, que, segundo Augusten, incluia fazer o que bem entender, comer ração de cachorro, ter uma árvore de Natal e cocos de cachorros no meio da sala o ano inteiro, além de brincadeiras com um aparelho antigo de eletrochoque do Dr. Finch.

Depois de sucessivas crises psicóticas e de assumir sua homossexualidade, sua mãe incumbe Dr. Finch de ser o tutor legal de Augusten, tornando sua estada na casa da família praticamente definitiva. Isso inclusive fez com que ele, que também se assumiu gay, tivesse um relacionamento com um dos "filhos adotivos" do médico - detalh: ele tinha 13 para 14 anos, e o filho, 33. E ainda teve o aval de sua mãe.

Augusten conta que ficou muito próximo de Natalie, a filha mais nova do Dr. Finch, inclusive morando junto com ela, na tentativa dos 2 de estudar, se formar, pois, como tudo na família, não havia regras, e frequentar a escola era algo que poderia ser "quebrado".

Bom. Até ai, apesar de chocante, retratava a vida do autor. Uma autobiografia.

Podemos considerar o livro a primeira parte da história.

A segunda parte da história entra com a verdadeira Natalie sabendo que o antigo amigo lançou um livro e o comprando para ler. Se quem lê sente um soco no estômago, como fala na contracapa do livro, imagina como "Natalie" se sentiu, vendo sua família ser retratada de um jeito, que, segundo ela, não condiz com a realidade. Embora seu pai tenha tido o diploma cassado entre outros detalhes.

"Natalie", que na verdade se chama Thereza, conta que foi aí que começou a humilhação e a vergonha da família Turcotte - os Finch da "ficção".  A família concedeu uma entrevista para a revista Vanity Fair (americana):

http://www.vanityfair.com/culture/features/2007/01/burroughs200701

Isso tudo me lembrou a velha discussão filosófica sobre a VERDADE. Verdade pode ter vários significados.  Para os estudiosos, por exemplo, em antropologia cultural, artes, filosofia, os fatores envolvidos implicam no imaginário, na realidade e na ficção. Óbvio que não há consenso entre filósofos e acadêmicos,  e teorias existem e continuam sendo debatidas sobre o que é a verdade.

Para Nietzsche a verdade é um ponto de vista. Ele não define nem aceita definição da verdade, porque não se pode alcançar uma certeza sobre a definição do oposto da mentira.

Há experiências e vivências, onde cada pessoa envolvida se lembra e destaca um dos aspectos, e nenhum deles forma o "todo".

Acredito que não dá para discutir sobre a verdade da história de Augusten e a verdade da família Turcotte. Há, sim, vivências e pontos de vista. Para "Natalie/Thereza", sua família era daquele jeito, pouco ortodoxa, "normal' de um jeito freak, mas era sua família. Já para Augusten, obcecado com polimento de moedas, organização e seu próprio penteado quando criança, passar por um divórcio problemático dos pais, conviver com os surtos psicóticos da mãe e do abandono do pai, ser colocado em uma família oposta em tudo ao que ele considerava normal e aceitável, e seu relacionamento com um pedófilo, praticamente, faz com que sua biografia seja realmente cínica, mostrando como ele conseguiu sobreviver a um mundo caótico dentro das circunstâncias de sua adolescência.

Encerro com uma frase da Filósofa Hanna Arendt:

"Toda dor pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história".

E foi isso que Augusten fez.


http://www.independent.co.uk/news/people/profiles/augusten-burroughs-writing-saved-my-sanity-434920.html

Para quem quiser, o livro foi transformado em filme: http://www.imdb.com/title/tt0439289/

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