quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Livro 8 - Moda & Guerra



Livro 8 - Mod & Guerra - Um Retrato da França Ocupada - Dominique Veillon

Dominique é historiadora e diretora de pesquisas do Institut d'Histoire du Temps Présent no CNRS (Centre National de Recherches Scientifiques). Ela se dedica ao estudo de fenômenos sóciopolíticos relacionados à Segunda Guerra Mundial.

Neste livro a autora faz uma pesquisa minuciosa da França pós-ocupação alemã, e como isso afetou a vida cotidiana. Ela acredita que a moda tem o poder revelador do ambiente político, econômico e cultural de uma época.

Durante a Segunda Guerra, a França levou uma vida "normal", onde os pobres trabalhavam, os ricos se "mostravam" nos balneários chiques e nas festas onde tout-Paris e estrangeiros ricos frequentavam. Após a invasão da Polônia pela Alemanha, França e Inglaterra declararam guerra à Alemanha em 3 de setembro de 1939. Depois do adeus aos seus soldados, com a pergunta aflorada em todos "quando nos veremos de novo'? e a fuga de vários parisienses para as cidades do sul e/ou o estrangeiro, Paris luta para reassumir a vida, onde espetáculos e festas, e compras, apesar de muitas maisons de alta-costura estarem fechadas, continuam.

Com a invasão alemã, há dois aspectos a se considerar:
1 - a luta do presidente do Chambre Syndicale de Haute-Couture, Lucien Lelong, para preservar a alta-costura como símbolo cultural da França, apesar de todas as restrições e impostos obrigatórios sobre as mercadorias impostos pelos alemães.
2 - a luta das pessoas para sobreviverem apesar de todas as restrições, onde tudo era a base de tíquetes: alimentação, carvão, roupas, sapatos.

Na primeira questão, vê-se como, entrando em um clichê, "a união faz a força". Os alemãos queriam levar as casas de alta-costura para Berlim, como se fosse um espólio de guerra. Lucien Lelong teve um comprometimento que fez com que ele tivesse que se justificar perante o movimento de Libertação. Havia consumidor para vestidos de alta-costura, e não somente mulheres do alto-escalão nazista. Franceses ricos, sul-americanos e um pouco menos, americanos, ainda consumiam o luxo. Após a Libertação, e graças à resistência de Lelong, o mercado de luxo foi ressucitado, pois, como símbolo francês, a exportação iria ajudar a encher os cofres públicos.

Na segunda, faz com que a população crie, improvise, frenta à grandes atribulações. Saias e outras peças de vestuário são feitas a partir de lenços, cortinas, lençóis e o que mais estiver dentro do armário de casa ou livre de "pontuação" (a população tinha direito a certo número de pontos para tudo, mas alguns itens era de venda livre). A bicicleta e o metrô foram adotadas como transporte, devido ao racionamento de gasolina (que era privilégio dos alemães), fazendo com que o guarda-roupa, principalmente das mulheres, tivesse que ser alterado. Surgiram assim saias-calças, que os costureiros, para os privilegiados que pudessem pagar, faziam de forma a poderem se transformar em saia, por exemplo, através de um zíper invisível. A funcionalidade virou mote principal da roupa - que tinha que ser, frente a um inverno rigoroso, quentes, por exemplo.


A autora faz um retrato muito bem documentado desse período, dos pontos citados acima, à criação de  confeções na região de Midi, particularmente em Nice, arautos do prêt-a-porter, culminando com a criação, em 12 de fevereiro de 1947, do New Look, por Christian Dior, para uma população cansada de tanto racionamento, Quando a guerra termina, a moda não tem mais a significação que tinha em 1939, mas todos, inconscientemente, esperam uma página virar, uma renovação de estilo. Christian Dior e o prêt-a-porter são reflexos disso.

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